domingo, 26 de maio de 2013

Morri

Simples assim. Para morrer não é preciso fazer cena, o ar para de entrar nos pulmões, o coração cansa de pulsar, a voz enfim emudece e pronto. Tudo está feito, acabado para sempre. Às vezes o corpo indigente é jogado em uma vala, outrora gente que é sepultado como acham que é merecido, mas a morte é uma só. Não importam onde vão me enterrar, ou se alguém vai forçar alguma lágrima. Não quero flores, em vida nunca ganhei nenhuma rosa murcha, agora meus olhos estão cerrados e minha pele morta não sente mais o toque de flor alguma. As flores são um jeito de ajudar no luto, mas ninguém vai se lembrar que passei por esse mundo, nunca dei importância para sentimentos não o farei agora; a morte lava a alma, arranca-a do corpo sem dó nem piedade e o que fica é massa, carne podre. O que nunca me serviu para nada agora perdeu de vez o valor. Morri e quer saber não estou nem aí.

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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Culpada

Você não entende e nem me entenderia. É tudo culpa minha e não tem como ninguém me ajudar, isso é como uma droga, um vício maldito contido em mim. Culpo-me pelas estrelas que não brilham, pelo céu acinzentado, por toda a vida errada e obliqua que levei. Eu estou me transformando em um monstro, eu não aguento isso aqui que está em mim. Me desculpe, eu queria ser forte, assim como a maioria das pessoas são, mas eu não sou, eu sou frágil, estúpida, sentimental. Todos sabem disso, eles comentam as mesmas coisas. Ninguém é capaz de entender essa dor, essa dor que existe em mim, e o motivo sou eu. Eu sou culpada, nada estaria desse jeito se eu fosse menos idiota, não estou segura nem comigo mesma. Isso tudo é um grande pesadelo em que eu não consigo acordar, nunca tem fim. Eu estou morrendo por dentro e por fora, nada, nem ninguém é capaz de me tirar disso tudo. Eu me odeio por isso, eu me odeio por tudo. Eu não entendo, por que tanta dor? Isso só me desgasta, só estou aguardando o fim.  

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Teu lado

Às vezes me sinto como se tivesse uma corda amarrada ao meu pescoço, com um nó impossível de ser desfeito. Os dias coloridos e alegres tornaram-se cinzas e tristes, cinzas como minha alma, fraca e desgastada, triste como a minha vida maltratada. Apenas 16 e nenhum sonho, nenhuma vontade, nenhuma coragem. Apenas uma vontade. Há um arrombo em meu peito, me pergunto, onde foi parar meu coração? Você o levou contigo. Só me restou a solidão. Ah, se tu soubesses a falta que me faz. Ah, se tu soubesses como as coisas caminhavam melhor quando estava contigo. Por que fez isso comigo? Por quê? Mas não vou chorar, não vou mais derramar sequer uma lágrima, estou esgotada. Espero que um dia tudo isso passe, espero que passe logo, talvez eu espere que você volte, mas talvez possa nunca mais voltar. Eu vou esperar como sempre fiz. Observar o tempo como se fosse capaz de trazê-lo de volta. Como se tudo fosse mudar, como se só você pudesse transformar toda essa dor em dias ao lado teu.   

Sorrir é uma lenda antiga

“Percebi que tinha morrido quando a dor já não alcançava minha carne. Não sentia o cansaço nas costas judiadas, nem as feridas se abrindo dentre os calos das mãos, tampouco os latidos distantes me incomodavam na noturna. Eu já havia sido morto noite passada, ao me ver martelando memórias na parede de molduras vazias. Ao tomar vinho não mais sentia o fervor do álcool destilando a pouca fome no meu organismo. Silenciosos eram meus passos e corredores da solidão. O vento batia seco, as cortinas dançavam, as prateleiras tremulavam na parede branca. Mas minha pele não o sentia. Minhas vistas se escureciam na densidade das luzes amareladas. O relógio escancarava as horas que se rastejavam lentas, dando ainda mais ênfase à minha tortura. Não devia ter cantado o choro da nascença. Não devia ter florescido do útero de nenhuma mortal errante. Viver é atar-se nos espinhos venenosos, e o perfume da rosa nunca vale a pena. Não vale o cheiro, não vale a morte. Murchou-se e foi varrida pelo vento da janela aberta. Foi, deixando-me no véu do abandono. A vida, foi se esmigalhando aos poucos e sumindo junto à poeira da poesia. Dobrei os meus joelhos sobre o chão e congelei-me na negridão dum canto quieto. Vi-me no espelho: minha angústia atravessada no reflexo embaçado. A dor tomava minha áurea como o calor toma a areia de um deserto. Os meus olhos se negaram à luz e renderam-se à cegueira. Logo minhas pálpebras eram nimbos chuvosos. Calafrios escalavam minhas costas, e minha vergonha se umedeceu com o sal oceânico de minhas lágrimas. Caí sobre os meus joelhos e desejei que as unhas da noite tragassem em arranhões os meus tantos pecados e ossos cansados. Pude sentir a leveza nos calcanhares e nos ombros, minha alma saíra de meu corpo errôneo. Drapejei-me ofegante no fôlego do escárnio. Zombei da vida ao deixá-la. Nada mudou no mundo. Nada deixou de florir. Abandonei minha necrose estirada no chão e crucifiquei-me nos rasgos e brumas do céu. Sepultei-me entre nuvem e outra, no silêncio mortificado da garoa. Fui meu punhal e chaga. Morri por dentro e por fora, às avessas do penar. O verdadeiro erro foi ter demorado pra aceitar as asas da morte e enfim, sorrir ao voar.”



 Sorrir é uma lenda antiga. 
Annd Yawk

sexta-feira, 3 de maio de 2013

De Repente

De repente você acorda e percebe que as coisas já não te animam tanto. Percebe que os hobby's viraram martírios, percebe que os sonhos perderam seu brilho.

Os dias se repetem, a rotina te engole, os capítulos se reprisam, e as falas já não surpreendem mais.

De repente você acorda e tudo se torna previsível. Você sabe como o dia começa, e porque ele termina. Sabe que é hora de mudar, mas não sabe por onde começar.

Até que você se enche das mesmas pessoas, dos mesmos lugares, das mesmas roupas, e até das mesmas músicas. Você se enxerga sem rumo, a vontade de mudar é urgente, mas não há caminho, até que o cansativo se torna insuportável.

Você não sabe o que fazer, muito menos por onde começar - a vontade de ser outra coisa torna-se agoniante -, você percebe que perdeu muito tempo ocupando um lugar que não era seu.

Nesse momento você consegue enxergar a verdadeira solidão do mundo por não encontrar seu próprio horizonte. Nada acontece, nada trás ânimo.

O que chamamos de vida é apenas um teste pra ver quem se cansa por último.


Sean Wilhelm