sábado, 29 de junho de 2013

De Cima do Precipício

Te vejo com um sorriso mais triste que todas as minhas lágrimas juntas, te vejo com o olhar reflexivo e com a expressão de quem está carregando as dores do mundo nas costas. Te vejo há um passo de se jogar e sinto vontade de correr e gritar para que não faça isso, te vejo sorrindo cada vez mais triste e irônico, como se soubesse que estou te olhando, mas eu estou presa, não consigo mover um músculo se quer e minha voz falha, não sai. Te vejo se atirando como um pássaro pronto para alçar voo, mas quem cai sou eu, quem sente o vento se acelerar pelo corpo sou eu, quem sente a queda se aproximando, quem sente o impacto com o chão sou eu, quem sente a dor latejar, quem sente o gosto de sangue sou eu, e você sorri lá de cima, mais irônico do que nunca.

E eu fecho os olhos e sinto a vida escapar pelas frestas.
Morri.


Ana Carolina, Lisbelices

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Menina


Nunca fui um cara óbvio, e de certo, isso serviu para confundir muitas mentes que se atreveram a me notar. 
Sei que te notei, te tentei, te assustei, aquelas doses de vodka me fizeram perder a noção, e perder a memória também que não me deixa ter certeza sobre o que aconteceu. 
E aí num outro dia te vi novamente. Nessas horas, costumo rir por dentro e ser sério por fora. E eu estava sério. Mas dessa vez, mal te olhei. O interesse parecia não existir. Eu estava nulo. Você me deixou nulo.
Desde então, passei a não te notar. Meu cérebro, esse cara esperto, aprendeu. Não leve a menina em consideração. Ela é só um branco, que nada significa. O branco da sua pele, refletindo na minha consciência.
É menina, eu não te levava em consideração. E pra ser sincero, te levava à mal. Sem nem te conhecer.
O destino costuma pregar peças na minha vida. Eis que ele, senhor destino, astuto e traiçoeiro, faz eu te notar. Me obrigou. Te escancarou às minhas vistas.
Penso que você, menina, poderia ter se sentido como Lily Braun, pois confesso, eu era o cara te comendo com os olhos de comer fotografia.
E então você disse cheese, mas sem perder a pose.
A pose quem perdeu foi eu.
E sem destilados, perdi a noção, e desejei o teu lado!
Confesso, desejei até algo mais. Algo como esse teu sorriso ensaiado, e esse olhar que sem querer, me tragou.
E eu, um cara sensato, dissimulado, jogando tudo pro alto ao pensar:
"- Eu passaria noites acordado só pra te ver dormir, me fingiria de burro, pra você sobressair."





Charlie&cigarette

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Solitude

Meu nome não significa nada, minha vida menos ainda.
Amortalhado pela escuridão, retalhado pelo tempo, maltratado pela solidão. Tudo o que possuía, agora se foi. Mas me lembro de todas as coisas.
Ideias partidas, sonhos destruídos, meias palavras.
Solitude! 
Eu sou mesmo assim, meio sim, meio talvez, meio não.
Nunca inteiro.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Rascunho

Eu sou poesia mal escrita, dor em prosa e alegria em verso. Sou palavras cuspidas num papel de qualquer jeito, um dia bem organizada e outro sem métrica alguma. Sou a vergonha dos grandes escritores, os clichês dos poemas de amores, sou a biografia dos anônimos, da escória poética, sou os mal amados, sujos, safados, tarados e doentes amor. Sou a psicose humana transcrita na prancheta de um analista, sou a crise de ciúmes da namorada via sms, sou os podres e os defeitos que circundam os meros mortais e os sonhos puros e brilhantes de um diário perdido de uma menina de quatorze anos. Sou o primeiro amor dos roteiros de filmes da Disney e o último a lá Moulin Rouge. Eu sou as músicas bregas que te fazem rir, as lindas que tocam tua alma e aquelas que te fazem dançar até não sentir mais os pés. Sou cada palavra, escrita, cantada, cuspida, gritada. Sou o gemido entre dentes de uma foda bem dada. Eu sou o sussurro ao pé do ouvido, seguido de um eu te amo de uma noite de amor intenso. Sou um tapa na cara da sociedade, sou caneta, lápis, papel e nunca borracha. Sou um erro que prevalece e permanece e não posso ser apagada. Nem mesmo por mim. Sou página marcada, colada na cabeceira da cama, repetindo tudo aquilo que você não vai esquecer. Sou um desenho mal acabado, sou pintura por acaso, sou o luxo do lixo, sou o esclarecer do profundo. Eu sou o rascunho do mundo! E nada nem ninguém seria capaz de me passar a limpo.




caosdoacaso

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Violão

A cor não importa, há das mais variadas, de rosa até o amarelo. As seis cordas são essenciais para a melodia ficar perfeita. Afinação você mesmo pode fazer. Quando vires o buraco no meio do instrumento não se assuste. O furo faz com que o som saia mais alto. Minha habitação é a cova que está no centro desse instrumento. O oco é lá. O vácuo está em mim. O som produzido é belo, mas omite meus gritos de clamor. O que ouvires a partir de agora pode lhe acalmar, entretanto tenha ciência que algo pode lhe passar despercebido. Aprecie o timbre da solidão se tornar presente. Escuta? Minhas lamúrias formando as estrelinhas da música. Observe como são torturantes os tons mais agudos. Machucam? Estraçalham minha alma com um concerto musical todas as noites. O rasgo que fizeram dentro de mim já não dói mais. Acostumei com o som triste e dolente me pondo pra dormir. O eco já não me engole. Pois estou em casa. Nesse casulo escuro e frio é onde vou morar. No fundo desse oco estão trancafiadas as minhas dores. Aconselho-te que não leia tais frustrações. Correrá um grande risco de se engasgar com palavras pesadas e podres. Ainda está escutando minha alma cantar? Ouça. Veja que a letra narra o meu assassinato. Uma alma que já viveu e que hoje está em estado de vegetação. O sarau de minhas dores está acabado, as cordas viraram um emaranhado, meu eu está completamente aniquilado.

Apregoar e Maretiza

Sinopse

As páginas do meu livro estão amareladas e velhas. Umas com um pequeno rasgo, outras com cortes imensos que tornam quase ilegível as palavras. Na verdade não há muitas palavras, e as que têm estão espalhadas. A organização desse exemplar está um caos, mas afirmo que todo o conteúdo que for obtido é de uma sinceridade imensa. Posso adiantar que a dor estará presente em cada fragmento, a solidão fará companhia a ti quando for ler essa obra, as lágrimas podem vir a rolar perante meus torturantes relatos. É recomendada uma única coisa ao leitor, apenas para que ele seja fiel ao que ler e que prometa a si mesmo nunca se permitir adentrar a um lugar tão vazio e obscuro como a realidade da autora do livro. A leitura pode não ser agradável como um romance, mas será verdadeira como a pericia de um assassinato. Seja sensato ao ler minhas entrelinhas, enxergue, não apenas olhe.

Débora - Apregoar

domingo, 2 de junho de 2013

Mundo

Vivemos em um mundo maluco, que se julga sano. Vivemos em um mundo que te mata pelo o que você é e te ressuscita pelo o que você não foi. O mundo está lotado, lotado de tudo, lotado de excessos. Mas, ao mesmo tempo, está vazio, está escasso. Há pessoas demais neste mundo, mas mesmo assim é um mundo solitário. Se tivéssemos coragem para ter a vida que desejamos, o mundo seria como nós queríamos. Na guerra é matar ou morrer, no amor é ganhar ou perder. A felicidade extrema do mundo se encontra entre os extremos do Amor e da Guerra.


Well Novaes

sábado, 1 de junho de 2013

Evolução

Todas as noites o sono nos atira na beira de um cais
e ficamos repousando no fundo do mar.
O mar onde tudo recomeça…
Onde tudo se refaz…
Até que, um dia, nos criaremos asas.
E andaremos no ar como se anda na terra.

Esconderijos do Tempo, Mário Quintana.

Versinho

Eu tentei escrever um texto enorme,
mas não consegui.
A única frase que vinha na minha mente, era:
“só não desiste de mim”.