domingo, 22 de novembro de 2015

Via Láctea

Ela costurava planetas como colcha,
a cobrir o frio proveniente de seus buracos negros,
na esperança de errar o mesmo erro
e encontrar o ponto antigo,
perdido em alguma parte do limbo,
pelo qual um dia cerziu a Terra.
Embora a roupa cósmica pouco esquente,
escolhe as galáxias mais belas e veste,
vaidosa e displicente,
enquanto, caídas pelo chão da Sala eterna
forma-se o manto celeste
no desperdício das estrelas que ela relega.
Nem lembra,
entre tanto astro disperso,
verificar se em algum já brotou vida.
Esquecendo luas, cometas, nebulosas perdidas,
tece entretida a costureira do Universo.
Pena não termos ainda o maquinário de observação
para contemplar a beleza desse trabalho,
enxergando apenas as partes discretas,
seus retalhos.
O Todo,
fica-nos por conta dos poetas
e sua estranha imaginação...
Adriano Dias

Turvo

Como se a vida fosse um labirinto
Sinto tudo o que percebo
E o que não percebo
Do meu peito omito
Sorrisos são bonitos
Mas soam falsos
Pés cascudos descalços
Servem para a bonita reflexão
De sempre mantê-los no chão
Mas é bela só no verbo
Pois a vida é dura
E só quem se faz forte
Não cai nos longos braços da loucura
Se o céu representa toda a altura
O solo rachado
Representa toda a proximidade
Do mais distante passado
Que por mais que tentemos enterrá-lo
No fundo de nossa mente
Ele, repentinamente,
Emerge para o raso
Servindo de tormento
Pra quem ainda não superou o sentimento
Que como um raio
Cortou o pobre peito frágil
Que todos nós carregamos conosco
Pois por mais que sejamos Luz
Todos nós possuímos o nosso lado fosco
Jihad Velasco.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Aspirações

Eu quero te ter, no maior uso do verbo de posse. Ter. No quarto, na cama... Dentro da alma. 
Quero arregaçar as entranhas do teu peito com o meu desejo e paixão. Quero te desmontar por inteiro.
Eu quero te ter. Quero sentir teu corpo mais perto do meu, unidos e ritmados a um som único e singelo. Eu quero sentir o suor escorrendo por cada centímetro dos nossos corpos. Te fazer sentir a emoção de estar em plena montanha russa, enquanto te beijo e sinto cada curva.
Eu quero tua pele arranhada, e minhas costas marcadas pela vontade de ter você. Eu quero te ver ofegante, fazer você tremer e deixar o desejo escorrer.
Eu quero ter o trabalho de desfazer cada nó feito em meu cabelo, o prazer de ver cada marca cicatrizar, ver cada roxo desaparecer. Eu quero ter que limpar cada lençol sujo, e mesmo assim ainda sentir nosso cheiro nele... 
Eu quero te ter, embora aqui, tu tenhas sido a melhor coisa que eu nunca tive, mas nunca cansarei de desejar.

Rafaela

domingo, 15 de novembro de 2015

Semema

O que eu te amo
já atravessou a fronteira da tua pele
pela fresta na pupila
e foi matar a sede na tua foz,
lamber-lhe o sumo
que, corpo afora diluído
em só aromas em que te esvais,
ou timbres de voz,
ou charme nos meneios corporais,
funda cultos e suicídios.
E o sabor lambido
desprograma as camadas todas
que me constituem
em cada vez menos carne ou crença ou tudo
a restar só um halo mudo,
tão ínfimo que, enfim,
sou eu em mim,
ou quase,
meu algoritmo base.
O que eu te amo não tem nada em volta,
não tem corpo,
não tem volta
e é tão mínimo quanto o que vi de onde tudo vem:
Bóson de nosso permanente Big Bang!

Mala

Eu não me lembro de me apaixonar por você. Não me lembro dos seus toques, do seu jeito. Não lembro de como penteava o cabelo para lado direito, e ele teimava para o esquerdo. De como arrumava a gola da camisa, ou de como amarrava os sapatos.

Talvez eu também não me lembre do gosto do seu beijo, de como sua mão caminhava pelo meu corpo, ou de como eles se entrelaçavam numa dança de suor sem pudor. De quando teimava em estar certo, e do movimento que sua sobrancelha fazia. Mas eu lembro de quando disse adeus, de quando bateu a porta, de como queria te abraçar e te ver voltar, mas não, eu não me lembro.


Tenho uma mala no fundo do guarda-roupa, com cada lembrança, com cada detalhe, mas talvez, só talvez, eu possa fingir que te esqueci. 

Rafaela.

Azul Anil

O vazio que há em mim encheria o mundo todo. E talvez as flores encantassem mais. Talvez o amor dure e a gente passe a se entender. E se a empatia existir, mesmo um dia nublado ilumina as nossas vidas. Porque se as cores forem mais vibrantes o mundo fica mais bonito. 

Victor Matheus.