terça-feira, 9 de abril de 2013

Cotidiano

À noite se mantém em paz. O único som que paira pela minha atenção no momento é o do vento batendo contra as folhas das árvores já quase todas secas. Não estava perto de nenhuma das janelas do enorme casarão e nem às árvores estavam tão próximas assim. Mas eu estava tão isolada do resto do mundo, impregnada no meu próprio eu, que nem me dava conta de como o tempo passava. Já era tarde da noite, eu estava deitada e tinha que dormir, mas a insônia estava me acompanhando junto a uma vastidão de pensamentos. Começou a passar um filme em minha mente, um filme de toda a minha vida, eu já estava com vinte e tantos anos nas costas e realmente pouca coisa daquele tudo me interessava.

Percebi onde realmente eu havia chegado, tinha um "emprego dos sonhos", uma casa grande, um carro novo, o celular de ultima geração, roupas e sapatos que sempre quis, mas não estava feliz, parecia que havia um vazio impossível de ser preenchido dentro do meu peito, tão vazio que ouço, em mim, os ecos de minha própria voz gritando por socorro, um nó na garganta daqueles impossíveis de ser desfeitos e dúvidas que eu sabia que jamais seriam esclarecidas. Tais sentimentos existem, ou seria apenas criação de um cérebro desocupado?

Há tempos eu havia me transformado em uma colecionadora de lágrimas, conseguiria até encher um oceano inteiro. Desabei inconformada com a vida que levava nesta noite. Estava triste quase o tempo todo, era rotineiro, mas ninguém percebia, ou talvez percebessem e não dessem importância. Às vezes as pessoas não enxergam além das aparências. Eu só queria ser capaz de desligar a dor, sabe?

Noite passada tive um sonho de como seria minha vida, tão diferente do inferno que estou vivendo. Ao mesmo tempo em que tenho tudo, não tenho nada. Minhas amizades tomaram rumos completamente diferentes da minha, me deixaram, e minha família, eu nem sei onde e como se encontram hoje. Pensei por um tempo que te tinha, mas você se cansou de mim, como todo mundo. Até prometeu que seria para sempre, mas como todos outros, mentiu. Queria que as coisas fossem fáceis como parecem, não aguento mais tudo isso.

Viver é recomeçar infinitas vezes, e eu estou cansada disso tudo. Estou me perdendo, o medo só me consome.

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