quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Meias

Meias verdades
Meias vontades
Meias saudades

Viver pela metade é ilusão 
Tire suas meias
Ponha o pé no chão

Augusto Barros

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Choro do Pacífico

De todas as coisas que sempre gostei de fazer,
de todas as coisas que eu sempre gostei de ouvir,
de todas minhas idas e vindas,
nada restou?

Sobrou o pó de minh'alma,
pedaços de papel rasgado,
uma vida incompleta,
prazeres insaciáveis.

Agora sou aquilo que sempre temi
uma vida por aí;
Um pedaço de corpo sobrevivendo
sem mais nem menos.

Sou as entrelinhas nunca lidas,
o pote quase vazio esquecido na prateleira,
sou o rascunho.

Das rimas mal feitas
das dores sem feridas
dos oceanos infinitos


Do teu mar, olhar.

Resíduo

De tudo ficou um pouco 

Do meu medo. Do teu asco. 
Dos gritos gagos. Da rosa 
ficou um pouco

Ficou um pouco de luz 
captada no chapéu. 
Nos olhos do rufião 
de ternura ficou um pouco 
(muito pouco).

Pouco ficou deste pó 
de que teu branco sapato 
se cobriu. Ficaram poucas 
roupas, poucos véus rotos 
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
 
Da ponte bombardeada, 
de duas folhas de grama, 
do maço 
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
 
Fica um pouco de teu queixo 
no queixo de tua filha. 
De teu áspero silêncio 
um pouco ficou, um pouco 
nos muros zangados, 
nas folhas, mudas, que sobem.

Ficou um pouco de tudo 
no pires de porcelana, 
dragão partido, flor branca, 
ficou um pouco 
de ruga na vossa testa, 
retrato.

Se de tudo fica um pouco, 
mas por que não ficaria 
um pouco de mim? no trem 
que leva ao norte, no barco, 
nos anúncios de jornal, 
um pouco de mim em Londres, 
um pouco de mim algures? 
na consoante? 
no poço?

Um pouco fica oscilando 
na embocadura dos rios 
e os peixes não o evitam, 
um pouco: não está nos livros.

De tudo fica um pouco. 
Não muito: de uma torneira 
pinga esta gota absurda, 
meio sal e meio álcool, 
salta esta perna de rã, 
este vidro de relógio 
partido em mil esperanças, 
este pescoço de cisne, 
este segredo infantil… 
De tudo ficou um pouco: 
de mim; de ti; de Abelardo. 
Cabelo na minha manga, 
de tudo ficou um pouco; 
vento nas orelhas minhas, 
simplório arroto, gemido 
de víscera inconformada, 
e minúsculos artefatos: 
campânula, alvéolo, cápsula 
de revólver… de aspirina. 
De tudo ficou um pouco.

E de tudo fica um pouco. 
Oh abre os vidros de loção 
e abafa 
o insuportável mau cheiro da memória.


Mas de tudo, terrível, fica um pouco, 
e sob as ondas ritmadas 
e sob as nuvens e os ventos 
e sob as pontes e sob os túneis 
e sob as labaredas e sob o sarcasmo 
e sob a gosma e sob o vômito 
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido 
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate 
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes 
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros 
e sob os gonzos da família e da classe, 
fica sempre um pouco de tudo. 
Às vezes um botão. Às vezes um rato.


Carlos Drummond de Andrade

Repentina


Durante a vida morremos diversas vezes. Aprendi isso num dos meus inúmeros sepultamentos, enquanto eu enterrava mais um pedaço do meu coração. Não tinha alguém pra me aconchegar num abraço, não havia uma rosa pra eu deixar junto a aquele pedaço condenado e que logo começaria a se deteriorar, não havia nada, não havia ninguém, só eu e minha alma cansada. Tempos depois voltei naquele mesmo lugar, não para deixar uma lembrança, mas para soterrar outra parte do meu ser. Dessa vez eu não estava mais tão solitária, a chuva se juntou a mim e as minhas lágrimas. Todas às vezes subsequentes foram assim, ou eu estava só, ou havia o vento ou quem sabe, a chuva. 
No final das contas, morro um pouco a cada novo baque, e mesmo após tantas mortes continuo morrendo. A única morte que me fará parar de morrer é a que me põe por inteiro embaixo da terra, esta pode estar mais perto do que nunca, ou mais longe, enquanto isso não ocorre, sigo assim, morrendo viva. 

Apregoar - Tumblr

Primeiro Amor

Década de cinquenta, época em que falar é algo estritamente perigoso… Falar por falar? Besteira! Falar de falar? Falta do que fazer. Falar dos outros? Costume. Falar de amor? Pecado!
Ainda assim, havia pessoas que desrespeitavam as leis naturais e espalhavam ideias contraditórias. Certa vez, escutei um homem desesperado soltar blasfêmias sobre o tal amor, vociferava para uma plateia invisível: ‘’Queridos cidadãos, prestem atenção em minhas palavras! Jamais amem! Jamais! Amor não é confiável, ao contrário, ele é traiçoeiro. Pode dar-nos esperança e vida, no entanto, ele não hesita em toma-los de volta… Amor é rosa só de espinhos, formoso para quem vê e doloroso para quem toca.’’
Confesso que o discurso do homem não surtiu efeito em mim, não passei a odiar o desconhecido nem mesmo chamou-me atenção, pareceu-me bastante semelhante aos sermões que costumava receber por conversar alto ou dormir tarde, ambos desinteressantes.
Logo depois de encerrar o discurso, o sujeito saiu tropeçando em seus próprios pés. Recordo que ele andou em minha direção e exclamou baixinho: ‘’criança, enquanto não amar, será feliz.’’
Ainda sem compreender o assunto, cutuquei papai que estava ao lado e perguntei-lhe: ‘’o que é amor?’’ surpreso, respondeu-me com a cara feia: ‘’amor é verbo que não deve ser conjugado por crianças’’, desde então, nunca mais conversei com ele sobre esse tema.
Em três de novembro, passei muito mal e fui embora mais cedo da escola, no dia não havia ninguém em casa, então, fui caminhando até ao domicílio de minha avó; dona Carolina. Ela era uma senhora de sessenta e três anos que não aparentava ter passado dos quarenta, era jovem de alma, transparecia vivacidade em frases brincalhonas e passava o dia sorrindo, eu nunca soube quais eram os motivos de tanta alegria, no entanto, hoje em dia desconfio que era apenas o seu espírito leve marcando presença.
A dor que eu estava sentindo era tão grande que as lágrimas escorreram por todo o caminho, quando finalmente cheguei, percebi os olhos inchados e ainda assim, chorava feito bebê.
Assustada, vovó fez questão de saber que dor era aquela que me enlouquecia e fazia perder o chão, por alguns minutos, ocupei-me admirando os lindos olhos de minha avó que emanavam preocupação. Respirei fundo e comecei: ‘’faz algumas semanas que perdi o controle de meu corpo… Sinto estar doente. Consigo morrer e renascer num único minuto! Não domino os pensamentos, são todos involuntários, o coração acelera sozinho e tenho medo dessa felicidade repentina. Tenho medo de ela ir embora.’’
Quando terminei, dei um leve suspiro e pude sentir o rubor subindo a face. Fiquei encarando aqueles olhos azuis, todo o corpo tremia a espera do veredito final, no entanto, o silêncio foi quebrado da forma mais inesperada possível; uma gargalhada de dona Carolina.
Lembro-me como se fosse hoje, ela colocou as mãos no meu ombro e falou tranquilamente: ‘’Amor queima por dentro, mas não mata. Grita no silêncio, mas não ensurdece. Beija-lhe na alma, mas não casa. Amor é pássaro livre, às vezes vem, mas sempre vai.’’
Quem me dera todo o medo e aflição ter passado, ambos continuavam aqui, dominavam-me por dentro e faziam arruaça até tarde, no entanto, ela tinha razão…
Primeiro amor dá medo, os sentidos misturam-se ao desconhecido, as pernas ficam bambas, a lógica foge e deixa-nos a deriva da emoção. Primeiro amor aterroriza, faz qualquer grandão tremer e ficar mansinho, os sóbrios tornam-se bêbados de emoção e os bêbados caem, eles tropeçam diante da realidade, os vícios mudam e as pessoas também. Primeiro amor não tem conceito nem hora marcada, um dia simplesmente acontece. Lembro que renasci das cinzas, chorei por noites seguidas, senti o inexplicável, voei e pousei ao chão, por fim, simplesmente amei e hoje compreendo o porquê que primeiro amor, a gente nunca esquece.

Taline Kihara

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Quem tem culpa?

Se for pra culpar alguém, aposte em quem cobriu o céu com fios, quem cercou as flores com espinhos, quem acimentou sonhos perdidos na areia.
Stella Teixeira

sábado, 16 de novembro de 2013

Copo Vazio

Assim sinto-me. Sinto? Não. Assim estou. Vazia. Oca. Num labirinto que parece não haver luz. Uma caverna me engole cade vez que expiro. Meus pulmões já estão cansados. Pedem folga me deixando sem ar. Preciso de um tubo de oxigênio, não para viver, apenas para continuar existindo.

Débora - apregoar

Embaraço

Nasci pela metade, uma má formação dos genes me fizeram assim, o que me falta em felicidade a alma compensa em tristeza. Tenho mais choros que risos, mais dores que abraços, mais nós do que laços. Sou um completo embaraço, sou a imensidão que se contem em um grão de areia, sou alguém tentando fazer sentindo num mundo que já não sente.

s0litarius

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Maquiagem

Meus olhos são castanhos, pincelados de ressaca. O opaco infinito deles, trancam meu egoísmo e solidão. O reflexo de minha pele jorra aos teus cuidados. Alma selada a cuidar. Dor no peito, refletem em meus lábios, seco como meu coração. Passe um batom, vermelho de amor.


Pássaro amarelo

domingo, 13 de outubro de 2013

domingo, 29 de setembro de 2013

Autopsicografia

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

Fernando Pessoa

sábado, 28 de setembro de 2013

Nota

Minha vida é uma merda, mas sempre acontece alguma coisa no meu dia de diferente, incrível. As vezes pra pior ou pra melhor (quase sempre pra pior). 


flutuan-do/tumblr

sábado, 24 de agosto de 2013

Somos Um

É, nada é fácil, nunca foi fácil, mas aos poucos nos mostramos fortes ao nos depararmos com barreiras.
Hoje sou o que me tornou, sou o que eu queria ser, ao teu lado.
Ó, se pelo menos um terço desse nosso amor, transportasse você para o meu lado... Eu seria a pessoa mais feliz do mundo.
Apesar de tudo, com todos os porém, você me ama, eu te amo, e só de saber que onde eu estiver posso contar com você, e que isso tudo é para sempre, me acalma, me sinto calma.
Você é o motivo de todos os meus risos bobos, da minha insônia, da minha vontade de acordar amanhã...
Eu sou melhor ao teu lado e ninguém pode nos impedir.
Você é mais que tudo para mim, somos uma alma solitária em dois corpos, eu te amo.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Volta

Eu vivo no caminho da tua voz, esperando que um dia ela me diga para voltar, diga o quanto me amou, e o quanto sente minha falta. 
Vivo na sobra do passado, querendo que um dia ele volte que um dia eu possa reviver que eu volte a voar alto do teu lado. 
Só você sabe de mim, dos meus desejos, das minhas vontades, dos meus sonhos.
Só você pode tirar esse agridoce do meu peito e trazer aquele sorriso de volta que só você sabe tirar. 
Eu sou tua, só tua, e nunca serei de mais ninguém. 

Eu só lhe peço, volta, ou me deixe voltar. 

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Morada

Quando acordar, se lembre de quem sou, do que me tornei, do que sou quando estou ao teu lado.
Eu sou teu lar, sou tua morada, sou teu lugar.
Sou eu quem vai sussurrar em teu ouvido que te ama quando acordar.
Sou eu quem vai mentir que esta fazendo tudo certo, mesmo errando.
Sou eu quem vai estar do teu lado para te acolher quando chorar.
Nem liga se eu não sei o que dizer, se eu não sei esconder, se eu não conseguir deixar de te amar.
Não liga para minhas rimas mal feitas, meu sorriso amarelado, meu cabelo desarrumado.
Não liga pra minha insanidade, pras minhas manias, nem pros meus estúpidos desejos.
Apenas deixe te abraçar, vou mostrar que em meu peito é a sua moradia.

domingo, 28 de julho de 2013

Sentir

Meu verbo preferido é sentir.
Sentir.
Sentir o que não devia.
Sentir o que devia sentir.
Sentir o que me faz mal.
Sentir.
Sentir muito.
Sentir sem ter.
Sentir o que tenho.
Sentir o que perdi.
Sentir o que nunca tive.
Sentir o que ainda está por vir.
Sentir em excesso.
Sentir ao extremo.
Sentir.
Sentir falta.
Sentir agonia.
Sentir amor.
Sentir raiva.
Sentir dor.
Sentir, apenas sentir.
Meu verbo é sentir, e eu sinto, sinto muito.


Fher - Extinta

segunda-feira, 22 de julho de 2013

18 anos

Hoje eu faço 18 anos... Bem, fazer 18 anos é... Normal.
É como todas as outras idades esperadas. A gente cria expectativas monstruosas, conta dias, horas, minutos e segundos para a tão sonhada "data querida" e quando ela finalmente chega. Não acontece nada. Nenhum efeito especial, nenhuma mágica, nada revelador. Só o mesmo de ontem e anteontem. Mesmo assim, é fascinante. Diferentemente de como eu previa quando criança eu não tenho um carro, nem uma moto possante, muito menos minha casa própria,  não sou independente, não fui entrevistada pelo Jo Soares, não sou uma astronauta, nem fui pra Lua, agora sou obrigada a votar, posso beber, passo a responder pelos meus atos. Enfim, a maioridade nos obriga a criar um pouco mais de responsabilidade, não só particular, mas também social e encarar a realidade.
É engraçado passar a vida imaginando e esperando fazer 18 anos. Você espera que fogos te iluminem a meia noite, que tenha música repentina e talvez até o John Travolta dançando Stayin' Alive junto contigo, ou um musical do Grease.
Todos os nossos pensamentos acerca da tão sonhada maioridade vão um dia nos envergonhar, pois eu sei que daqui algum tempo, vou lembrar-me desse texto e pensar: "Que bosta! Ainda não inventaram carros voadores!".
Bom, sem me estender mais, deixo um aviso aos que não passaram por isso: não vai acontecer absolutamente nada! Você vai ficar mais velho e ganhar presentes, igual ano passado, ano retrasado...

Enfim, parabéns para mim! 

domingo, 14 de julho de 2013

Eu

Eu sou mesmo essa alma
errante, inquieta e perturbada.
Devastada pela vida,
apaixonada pela solidão.

Eu sou isso,
apenas isso,
nada mais.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Ciúmes

E as discussões se sucediam, sem pé nem cabeça. Mas ciúmes são cegos como o próprio amor. São sentimentos mesquinhos, minuciosos, não esquecem a insignificância dos mínimos segundos. As batidas do coração jamais deveriam se escravizar aos tiquetaques desencontrados de dois relógios diferentes. A verdade, porém, é que eram ambos loucos, um pelo outro, e seus corações acabavam por se entender, num ritmo comum de compreensão. E as hostilidades descansavam invariavelmente em beijinhos e mil perdões.

Chico Buarque

sábado, 6 de julho de 2013

Quem sou?

Queria ter a certeza do que sou e do que não sou, do que gosto e do que não gosto. Queria poder me reconhecer, poder olhar no espelho e ver que aquele reflexo é meu. Ter orgulho do que sou. Saber o que quero ser, e o que não quero. Mas eu não me conheço, não sei quem sou, e o que sou. Quero ser livre de mim, mas sem me deixar. Eu sou essa dúvida, eu sou a imprecisão, eu sou essa incerteza.
Quem eu sou? Eu... Nem eu mesmo sei. 
Quando eu me pergunto quem sou eu, sou o que pergunta ou o que não sabe a resposta?
Eu sou eu, eu sou o que você não é, eu sou o que ninguém sabe, eu sou essa interrogação.

Felicidade

A Felicidade passou por mim e eu não consegui agarra-lá. Ou seria apenas uma miragem? Nunca tive discernimento sobre o que é, e o que não é felicidade. A tristeza sempre embalou a minha vida. Nunca tive a sensação de tocar às nuvens. Eu sempre vivi no limbo. Eu sempre estive na fossa. Assim como os poetas do "Mal do Século", a ideia do suicídio me tumultuava a mente. Melancolia, Dor, Ódio e Morte, eram os temas dos rascunhos que eu mantinha enterrados na gaveta. A minha garganta vivia entalada. Eu não conseguia me expressar. Eu era um ser fragmentado. Eu era um erro. Passei a entender o por que de as crianças chorarem ao nascer. O mundo é uma porcaria. Minha vida havia se tornado "Uma Espera da Morte". Eu não encontrava saída em nada. Eu queria fugir. Eu queria sair de mim. Eu estava perdido.



Thomaz Torres 

sábado, 29 de junho de 2013

De Cima do Precipício

Te vejo com um sorriso mais triste que todas as minhas lágrimas juntas, te vejo com o olhar reflexivo e com a expressão de quem está carregando as dores do mundo nas costas. Te vejo há um passo de se jogar e sinto vontade de correr e gritar para que não faça isso, te vejo sorrindo cada vez mais triste e irônico, como se soubesse que estou te olhando, mas eu estou presa, não consigo mover um músculo se quer e minha voz falha, não sai. Te vejo se atirando como um pássaro pronto para alçar voo, mas quem cai sou eu, quem sente o vento se acelerar pelo corpo sou eu, quem sente a queda se aproximando, quem sente o impacto com o chão sou eu, quem sente a dor latejar, quem sente o gosto de sangue sou eu, e você sorri lá de cima, mais irônico do que nunca.

E eu fecho os olhos e sinto a vida escapar pelas frestas.
Morri.


Ana Carolina, Lisbelices

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Menina


Nunca fui um cara óbvio, e de certo, isso serviu para confundir muitas mentes que se atreveram a me notar. 
Sei que te notei, te tentei, te assustei, aquelas doses de vodka me fizeram perder a noção, e perder a memória também que não me deixa ter certeza sobre o que aconteceu. 
E aí num outro dia te vi novamente. Nessas horas, costumo rir por dentro e ser sério por fora. E eu estava sério. Mas dessa vez, mal te olhei. O interesse parecia não existir. Eu estava nulo. Você me deixou nulo.
Desde então, passei a não te notar. Meu cérebro, esse cara esperto, aprendeu. Não leve a menina em consideração. Ela é só um branco, que nada significa. O branco da sua pele, refletindo na minha consciência.
É menina, eu não te levava em consideração. E pra ser sincero, te levava à mal. Sem nem te conhecer.
O destino costuma pregar peças na minha vida. Eis que ele, senhor destino, astuto e traiçoeiro, faz eu te notar. Me obrigou. Te escancarou às minhas vistas.
Penso que você, menina, poderia ter se sentido como Lily Braun, pois confesso, eu era o cara te comendo com os olhos de comer fotografia.
E então você disse cheese, mas sem perder a pose.
A pose quem perdeu foi eu.
E sem destilados, perdi a noção, e desejei o teu lado!
Confesso, desejei até algo mais. Algo como esse teu sorriso ensaiado, e esse olhar que sem querer, me tragou.
E eu, um cara sensato, dissimulado, jogando tudo pro alto ao pensar:
"- Eu passaria noites acordado só pra te ver dormir, me fingiria de burro, pra você sobressair."





Charlie&cigarette

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Solitude

Meu nome não significa nada, minha vida menos ainda.
Amortalhado pela escuridão, retalhado pelo tempo, maltratado pela solidão. Tudo o que possuía, agora se foi. Mas me lembro de todas as coisas.
Ideias partidas, sonhos destruídos, meias palavras.
Solitude! 
Eu sou mesmo assim, meio sim, meio talvez, meio não.
Nunca inteiro.

terça-feira, 18 de junho de 2013

Rascunho

Eu sou poesia mal escrita, dor em prosa e alegria em verso. Sou palavras cuspidas num papel de qualquer jeito, um dia bem organizada e outro sem métrica alguma. Sou a vergonha dos grandes escritores, os clichês dos poemas de amores, sou a biografia dos anônimos, da escória poética, sou os mal amados, sujos, safados, tarados e doentes amor. Sou a psicose humana transcrita na prancheta de um analista, sou a crise de ciúmes da namorada via sms, sou os podres e os defeitos que circundam os meros mortais e os sonhos puros e brilhantes de um diário perdido de uma menina de quatorze anos. Sou o primeiro amor dos roteiros de filmes da Disney e o último a lá Moulin Rouge. Eu sou as músicas bregas que te fazem rir, as lindas que tocam tua alma e aquelas que te fazem dançar até não sentir mais os pés. Sou cada palavra, escrita, cantada, cuspida, gritada. Sou o gemido entre dentes de uma foda bem dada. Eu sou o sussurro ao pé do ouvido, seguido de um eu te amo de uma noite de amor intenso. Sou um tapa na cara da sociedade, sou caneta, lápis, papel e nunca borracha. Sou um erro que prevalece e permanece e não posso ser apagada. Nem mesmo por mim. Sou página marcada, colada na cabeceira da cama, repetindo tudo aquilo que você não vai esquecer. Sou um desenho mal acabado, sou pintura por acaso, sou o luxo do lixo, sou o esclarecer do profundo. Eu sou o rascunho do mundo! E nada nem ninguém seria capaz de me passar a limpo.




caosdoacaso

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Violão

A cor não importa, há das mais variadas, de rosa até o amarelo. As seis cordas são essenciais para a melodia ficar perfeita. Afinação você mesmo pode fazer. Quando vires o buraco no meio do instrumento não se assuste. O furo faz com que o som saia mais alto. Minha habitação é a cova que está no centro desse instrumento. O oco é lá. O vácuo está em mim. O som produzido é belo, mas omite meus gritos de clamor. O que ouvires a partir de agora pode lhe acalmar, entretanto tenha ciência que algo pode lhe passar despercebido. Aprecie o timbre da solidão se tornar presente. Escuta? Minhas lamúrias formando as estrelinhas da música. Observe como são torturantes os tons mais agudos. Machucam? Estraçalham minha alma com um concerto musical todas as noites. O rasgo que fizeram dentro de mim já não dói mais. Acostumei com o som triste e dolente me pondo pra dormir. O eco já não me engole. Pois estou em casa. Nesse casulo escuro e frio é onde vou morar. No fundo desse oco estão trancafiadas as minhas dores. Aconselho-te que não leia tais frustrações. Correrá um grande risco de se engasgar com palavras pesadas e podres. Ainda está escutando minha alma cantar? Ouça. Veja que a letra narra o meu assassinato. Uma alma que já viveu e que hoje está em estado de vegetação. O sarau de minhas dores está acabado, as cordas viraram um emaranhado, meu eu está completamente aniquilado.

Apregoar e Maretiza

Sinopse

As páginas do meu livro estão amareladas e velhas. Umas com um pequeno rasgo, outras com cortes imensos que tornam quase ilegível as palavras. Na verdade não há muitas palavras, e as que têm estão espalhadas. A organização desse exemplar está um caos, mas afirmo que todo o conteúdo que for obtido é de uma sinceridade imensa. Posso adiantar que a dor estará presente em cada fragmento, a solidão fará companhia a ti quando for ler essa obra, as lágrimas podem vir a rolar perante meus torturantes relatos. É recomendada uma única coisa ao leitor, apenas para que ele seja fiel ao que ler e que prometa a si mesmo nunca se permitir adentrar a um lugar tão vazio e obscuro como a realidade da autora do livro. A leitura pode não ser agradável como um romance, mas será verdadeira como a pericia de um assassinato. Seja sensato ao ler minhas entrelinhas, enxergue, não apenas olhe.

Débora - Apregoar

domingo, 2 de junho de 2013

Mundo

Vivemos em um mundo maluco, que se julga sano. Vivemos em um mundo que te mata pelo o que você é e te ressuscita pelo o que você não foi. O mundo está lotado, lotado de tudo, lotado de excessos. Mas, ao mesmo tempo, está vazio, está escasso. Há pessoas demais neste mundo, mas mesmo assim é um mundo solitário. Se tivéssemos coragem para ter a vida que desejamos, o mundo seria como nós queríamos. Na guerra é matar ou morrer, no amor é ganhar ou perder. A felicidade extrema do mundo se encontra entre os extremos do Amor e da Guerra.


Well Novaes

sábado, 1 de junho de 2013

Evolução

Todas as noites o sono nos atira na beira de um cais
e ficamos repousando no fundo do mar.
O mar onde tudo recomeça…
Onde tudo se refaz…
Até que, um dia, nos criaremos asas.
E andaremos no ar como se anda na terra.

Esconderijos do Tempo, Mário Quintana.

Versinho

Eu tentei escrever um texto enorme,
mas não consegui.
A única frase que vinha na minha mente, era:
“só não desiste de mim”.

domingo, 26 de maio de 2013

Morri

Simples assim. Para morrer não é preciso fazer cena, o ar para de entrar nos pulmões, o coração cansa de pulsar, a voz enfim emudece e pronto. Tudo está feito, acabado para sempre. Às vezes o corpo indigente é jogado em uma vala, outrora gente que é sepultado como acham que é merecido, mas a morte é uma só. Não importam onde vão me enterrar, ou se alguém vai forçar alguma lágrima. Não quero flores, em vida nunca ganhei nenhuma rosa murcha, agora meus olhos estão cerrados e minha pele morta não sente mais o toque de flor alguma. As flores são um jeito de ajudar no luto, mas ninguém vai se lembrar que passei por esse mundo, nunca dei importância para sentimentos não o farei agora; a morte lava a alma, arranca-a do corpo sem dó nem piedade e o que fica é massa, carne podre. O que nunca me serviu para nada agora perdeu de vez o valor. Morri e quer saber não estou nem aí.

Aclame -  Tumblr

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Culpada

Você não entende e nem me entenderia. É tudo culpa minha e não tem como ninguém me ajudar, isso é como uma droga, um vício maldito contido em mim. Culpo-me pelas estrelas que não brilham, pelo céu acinzentado, por toda a vida errada e obliqua que levei. Eu estou me transformando em um monstro, eu não aguento isso aqui que está em mim. Me desculpe, eu queria ser forte, assim como a maioria das pessoas são, mas eu não sou, eu sou frágil, estúpida, sentimental. Todos sabem disso, eles comentam as mesmas coisas. Ninguém é capaz de entender essa dor, essa dor que existe em mim, e o motivo sou eu. Eu sou culpada, nada estaria desse jeito se eu fosse menos idiota, não estou segura nem comigo mesma. Isso tudo é um grande pesadelo em que eu não consigo acordar, nunca tem fim. Eu estou morrendo por dentro e por fora, nada, nem ninguém é capaz de me tirar disso tudo. Eu me odeio por isso, eu me odeio por tudo. Eu não entendo, por que tanta dor? Isso só me desgasta, só estou aguardando o fim.  

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Teu lado

Às vezes me sinto como se tivesse uma corda amarrada ao meu pescoço, com um nó impossível de ser desfeito. Os dias coloridos e alegres tornaram-se cinzas e tristes, cinzas como minha alma, fraca e desgastada, triste como a minha vida maltratada. Apenas 16 e nenhum sonho, nenhuma vontade, nenhuma coragem. Apenas uma vontade. Há um arrombo em meu peito, me pergunto, onde foi parar meu coração? Você o levou contigo. Só me restou a solidão. Ah, se tu soubesses a falta que me faz. Ah, se tu soubesses como as coisas caminhavam melhor quando estava contigo. Por que fez isso comigo? Por quê? Mas não vou chorar, não vou mais derramar sequer uma lágrima, estou esgotada. Espero que um dia tudo isso passe, espero que passe logo, talvez eu espere que você volte, mas talvez possa nunca mais voltar. Eu vou esperar como sempre fiz. Observar o tempo como se fosse capaz de trazê-lo de volta. Como se tudo fosse mudar, como se só você pudesse transformar toda essa dor em dias ao lado teu.   

Sorrir é uma lenda antiga

“Percebi que tinha morrido quando a dor já não alcançava minha carne. Não sentia o cansaço nas costas judiadas, nem as feridas se abrindo dentre os calos das mãos, tampouco os latidos distantes me incomodavam na noturna. Eu já havia sido morto noite passada, ao me ver martelando memórias na parede de molduras vazias. Ao tomar vinho não mais sentia o fervor do álcool destilando a pouca fome no meu organismo. Silenciosos eram meus passos e corredores da solidão. O vento batia seco, as cortinas dançavam, as prateleiras tremulavam na parede branca. Mas minha pele não o sentia. Minhas vistas se escureciam na densidade das luzes amareladas. O relógio escancarava as horas que se rastejavam lentas, dando ainda mais ênfase à minha tortura. Não devia ter cantado o choro da nascença. Não devia ter florescido do útero de nenhuma mortal errante. Viver é atar-se nos espinhos venenosos, e o perfume da rosa nunca vale a pena. Não vale o cheiro, não vale a morte. Murchou-se e foi varrida pelo vento da janela aberta. Foi, deixando-me no véu do abandono. A vida, foi se esmigalhando aos poucos e sumindo junto à poeira da poesia. Dobrei os meus joelhos sobre o chão e congelei-me na negridão dum canto quieto. Vi-me no espelho: minha angústia atravessada no reflexo embaçado. A dor tomava minha áurea como o calor toma a areia de um deserto. Os meus olhos se negaram à luz e renderam-se à cegueira. Logo minhas pálpebras eram nimbos chuvosos. Calafrios escalavam minhas costas, e minha vergonha se umedeceu com o sal oceânico de minhas lágrimas. Caí sobre os meus joelhos e desejei que as unhas da noite tragassem em arranhões os meus tantos pecados e ossos cansados. Pude sentir a leveza nos calcanhares e nos ombros, minha alma saíra de meu corpo errôneo. Drapejei-me ofegante no fôlego do escárnio. Zombei da vida ao deixá-la. Nada mudou no mundo. Nada deixou de florir. Abandonei minha necrose estirada no chão e crucifiquei-me nos rasgos e brumas do céu. Sepultei-me entre nuvem e outra, no silêncio mortificado da garoa. Fui meu punhal e chaga. Morri por dentro e por fora, às avessas do penar. O verdadeiro erro foi ter demorado pra aceitar as asas da morte e enfim, sorrir ao voar.”



 Sorrir é uma lenda antiga. 
Annd Yawk

sexta-feira, 3 de maio de 2013

De Repente

De repente você acorda e percebe que as coisas já não te animam tanto. Percebe que os hobby's viraram martírios, percebe que os sonhos perderam seu brilho.

Os dias se repetem, a rotina te engole, os capítulos se reprisam, e as falas já não surpreendem mais.

De repente você acorda e tudo se torna previsível. Você sabe como o dia começa, e porque ele termina. Sabe que é hora de mudar, mas não sabe por onde começar.

Até que você se enche das mesmas pessoas, dos mesmos lugares, das mesmas roupas, e até das mesmas músicas. Você se enxerga sem rumo, a vontade de mudar é urgente, mas não há caminho, até que o cansativo se torna insuportável.

Você não sabe o que fazer, muito menos por onde começar - a vontade de ser outra coisa torna-se agoniante -, você percebe que perdeu muito tempo ocupando um lugar que não era seu.

Nesse momento você consegue enxergar a verdadeira solidão do mundo por não encontrar seu próprio horizonte. Nada acontece, nada trás ânimo.

O que chamamos de vida é apenas um teste pra ver quem se cansa por último.


Sean Wilhelm

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Penso

Penso...

Penso no beijo que não te dei.
Penso no que não aconteceu,
No quanto te amei, te desejei.

Penso na lágrima que rolou,
Penso no sorriso que feneceu
Quando a despedida ressoou.

Penso no meu amor que negaste.

Penso na dor que não debelaste.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Imortal

Corta, perfura, remenda…
Da emoção, nasce o poema
No caos, morre o poeta.
Fim do primeiro ato!

Corta, perfura, remenda…
A cada poema,
 Renasce do caos, o poeta.
Fim do segundo ato!

Corta, perfura, remenda…
Imortal é o poema,
A alma do poeta
Fim do espetáculo!

— Imortal

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Saudade

Então eu estava deitada, admirando o manto estrelado. Me lembrei de ti, as constelações formavam seu rosto, talvez pudesse ter loucura minha, mas era tão natural, seus olhos desenhados com o mesmo brilho, seu sorriso com o mesmo sentimento. Estaria eu obcecada pela sua imagem? Mas mesmo que fosse isso, eu estava feliz, as estrelas me levavam pra perto de você. Tão perto dos olhos, mas tão distante. Logo aquela gota amarga me correu pelo meu semblante, tinha cheiro de saudade, quem dera ela pudesse me teletransportar para o teu lado, e ter você perto de mim.

terça-feira, 9 de abril de 2013

A Ruiva

Clarisse tinha a pele clara, branca como a neve, suave como veludo. Seu cabelo era avermelhado, num tom de ferrugem, envelhecido, quase como uma chama fria. Seus olhos azuis combinavam com a ambiguidade de seu olhar, um olhar frio e congelante. Tão magra que até o vento tinha medo de soprar achando que poderia assim a partir no meio de tão delicada que era. Tinha a alma frágil, fácil de perceber só de olhar, quase sempre estava tristonha e dificilmente esboçava um sorriso de Monalisa, oblíquo, sem esforço. E Clarisse estava trancada no banheiro, deitada no canto, cansada de ser vilipendiada, incompreendida e descartada. Sentia-se um pássaro, preso dentro da gaiola sem poder cantarolar e voar para longe dos problemas. Clarisse estava internada numa clínica.

Cotidiano

À noite se mantém em paz. O único som que paira pela minha atenção no momento é o do vento batendo contra as folhas das árvores já quase todas secas. Não estava perto de nenhuma das janelas do enorme casarão e nem às árvores estavam tão próximas assim. Mas eu estava tão isolada do resto do mundo, impregnada no meu próprio eu, que nem me dava conta de como o tempo passava. Já era tarde da noite, eu estava deitada e tinha que dormir, mas a insônia estava me acompanhando junto a uma vastidão de pensamentos. Começou a passar um filme em minha mente, um filme de toda a minha vida, eu já estava com vinte e tantos anos nas costas e realmente pouca coisa daquele tudo me interessava.

Percebi onde realmente eu havia chegado, tinha um "emprego dos sonhos", uma casa grande, um carro novo, o celular de ultima geração, roupas e sapatos que sempre quis, mas não estava feliz, parecia que havia um vazio impossível de ser preenchido dentro do meu peito, tão vazio que ouço, em mim, os ecos de minha própria voz gritando por socorro, um nó na garganta daqueles impossíveis de ser desfeitos e dúvidas que eu sabia que jamais seriam esclarecidas. Tais sentimentos existem, ou seria apenas criação de um cérebro desocupado?

Há tempos eu havia me transformado em uma colecionadora de lágrimas, conseguiria até encher um oceano inteiro. Desabei inconformada com a vida que levava nesta noite. Estava triste quase o tempo todo, era rotineiro, mas ninguém percebia, ou talvez percebessem e não dessem importância. Às vezes as pessoas não enxergam além das aparências. Eu só queria ser capaz de desligar a dor, sabe?

Noite passada tive um sonho de como seria minha vida, tão diferente do inferno que estou vivendo. Ao mesmo tempo em que tenho tudo, não tenho nada. Minhas amizades tomaram rumos completamente diferentes da minha, me deixaram, e minha família, eu nem sei onde e como se encontram hoje. Pensei por um tempo que te tinha, mas você se cansou de mim, como todo mundo. Até prometeu que seria para sempre, mas como todos outros, mentiu. Queria que as coisas fossem fáceis como parecem, não aguento mais tudo isso.

Viver é recomeçar infinitas vezes, e eu estou cansada disso tudo. Estou me perdendo, o medo só me consome.